Condecorações pela acção no sequestro do Pinhal Novo provocam polémica na GNR
Força diz que processos para condecorar feridos e militar morto decorrem, mas não adianta prazos. Militares denunciam “injustiça” por louvores a unidade de intervenção com 70 militares terem sido mais rápidos.
A atribuição de louvores em massa à unidade de Intervenção pela operação da GNR no sequestro ocorrido num restaurante em Pinhal Novo, em Novembro, está a provocar polémica no seio da corporação.Cerca de 70 militares daquela unidade, incluindo guardas apenas com função de motorista, receberam louvores do Comandante-Geral da GNR, Tenente-General Luís Newton Parreira, mas os restantes, que chegaram primeiro e ficaram feridos, ainda esperam igual reconhecimento. Também o militar Bruno Chainho, que morreu, alvejado pelo sequestrador, ainda não foi alvo de condecoração.
“Os militares empenhados, conscientes da elevada dificuldade que o cumprimento da missão comportava, executaram-na [a operação] de acordo com o planeamento efectuado e, após uma violenta troca de tiros com o adversário, neutralizaram-no, resolvendo a situação que se arrastava há cerca de sete horas”, recorda o despacho de Newton Parreira - ao qual o PÚBLICO teve acesso -, que em Dezembro deferiu a proposta de louvores feita pelo comandante da Unidade de Intervenção.
O mesmo documento sublinha apenas que a “intervenção inicial da patrulha do Posto da GNR local permitiu a libertação da esposa e da filha, e num segundo momento, a fuga do proprietário e do filho” e que o “militar que entrou no estabelecimento foi alvejado pelo sequestrador, ficando caído no seu interior”.
A celeridade da atribuição dos louvores aos elementos da unidade, apurou o PÚBLICO junto de várias fontes da GNR, está a provocar um ambiente de contestação. Muitos militares sentem que a diferença de tratamento representa uma injustiça com o colega morto em serviço e com os feridos. O mesmo foi confirmado ao PÚBLICO por um oficial superior da GNR.
Aquela força, porém, explicou ao PÚBLICO que “ninguém está esquecido”. “Posso assegurar que a Guarda nunca iria esquecer um dos nossos que morreu em serviço. Está a ser preparado um reconhecimento especial, talvez uma cerimónia, para o Bruno Chainho e reconhecimentos para os colegas feridos. Mas estes são processos mais complexos e, dados os trâmites legais, demoram mais tempo do que os louvores dados à unidade”, disse o capitão Marco Cruz, responsável pela Relações Públicas do Comando-Geral da GNR. O responsável não adiantou prazos para o desfecho desses processos.
A garantia, porém, não ameniza a polémica. Fonte da GNR assegurou que entre os 35 militares do Comando de Setúbal, entre os quais alguns do Posto de Pinhal Novo que ficaram feridos, uns serão reconhecidos com referências elogiosas e receberão louvores do comandante de destacamento, condecorações de menor valor do que o louvor do comandante-geral e que podem contribuir para a evolução das carreiras.
Newton Parreira ainda não deferiu também os louvores que o Comandante de Setúbal, Coronel Gomes, propôs aos feridos, assim como uma medalha póstuma a Bruno Chainho.
Em Novembro, quatro militares ficaram feridos quando foram atingidos por estilhaços de uma granada de fragmentação espoletada pelo sequestrador. Três ainda se mantêm em baixa médica desde então. Estão a receber tratamento diário de enfermagem e fisioterapia, bem como acompanhamento em consultas de psicologia e psiquiatria. Fonte da GNR garantiu que pelo menos um militar regista sinais de stress pós-traumático.
“É uma situação injusta. Congratulo-me por ver a unidade de intervenção a receber louvores. Mas não se percebe como são tão céleres com uns e demoram tanto com quem morreu ao serviço e com quem ficou gravemente ferido”, disse ao PÚBLICO o presidente da Associação Sócio-Profissional independente da Guarda (ASPIG), José Alho.
"Os louvores deveriam ser, no mínimo, iguais para todos. Não é melhores para os da intervenção e menos bons para quem lá chegou primeiro e foi atingido. Não faz sentido", acrescentou.
O responsável garantiu ainda que a associação vai “exigir que os feridos e o próprio Chainho, de forma póstuma, sejam promovidos de imediato ao posto seguinte, como o estatuto do militar da GNR prevê”.
“Estamos a falar, no caso dos feridos, de jovens que ficam marcados para a vida e não poderão ir a concursos para promoção porque não têm agora condições físicas. É um reconhecimento previsto. Vamos estudar isso com o nosso advogado”, explicou.
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