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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

PSP quer oficiais da GNR julgados- Diga lá outra vez?

O director entende que as críticas da ANOG à aquisição dos blindados ofendem a honra da corporação

O director nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP) apresentou ao Ministério Público uma queixa-crime contra oficiais da Guarda Nacional Republicana (GNR), por ofensa à honra e ao bom nome da "pessoa colectiva PSP". O superintendente-chefe Oliveira Pereira sentiu que a PSP foi ultrajada quando oficiais da GNR, na qualidade de membros da Direcção da Associação Nacional de Oficiais da Guarda (ANOG), criticaram a aquisição dos seis blindados, numa altura em que ainda se previa que fossem utilizados na cimeira da NATO.

O porta-voz oficial da PSP confirmou a iniciativa, mas remeteu para as "entidades judiciárias competentes" a indicação de quais as ofensas identificadas em concreto nas críticas dos quadros superiores da GNR.

Por seu turno, o presidente da ANOG , capitão José Dias, confirmou ao DN que a associação "foi já notificada pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) para discriminar os nomes dos elementos da direcção", mas não quis fazer mais comentários.

O porta-voz oficial do comandante-geral da GNR , general Nelson Santos, também não quis fazer qualquer comentário. De realçar que vários elementos da direcção da ANOG são comandantes experientes, formados na Academia Militar, com várias missões internacionais no curriculum e ocupam neste momento cargos de grande res- ponsabilidade na GNR, incluindo no próprio Comando-Geral desta força militarizada.

Ao que o DN apurou, em causa está um comunicado da ANOG de 28 de Setembro, assinado pela "Direcção Nacional", em que foram feitas várias considerações ao gasto de cinco milhões de euros em equipamento para a PSP utilizar na cimeira, no qual se incluía os blindados (ver fac-símile em baixo). A ANOG salientava a despesa com estas viaturas "face à actual conjuntura financeira que vive o Estado português" quando "é certo que existe esse equipamento na GNR e que aquela instituição já tinha demonstrado disponibilidade para o ceder".

No documento, a associação manifestava também a "especial preocupação" com a compra de equipamento electrónico de "informação e contra-informação passível de ser utilizado fora do controlo das autoridades judiciárias competentes". Criticando esta despesa, a ANOG questionava se estavam "esgotadas as capacidades das demais forças e serviços de segurança" e se o "território é exclusivo da intervenção da PSP, que não admite o recurso a meios de outras entidades, ainda que existam e que as mesmas estejam dispostas para cooperar". Os oficiais interrogavam-se ainda sobre o papel do secretário-geral do Sistema de Segurança Interna "para pôr mão nesta 'competição' institucional a que se vem assistindo, em detrimento do superior interesse nacional".

Esta queixa-crime por parte da alta hierarquia da PSP vem contribuir ainda mais para um clima de grande tensão que se tem vivido entre as duas forças de segurança, sobretudo a nível dos seus quadros superiores. As duas principais associações de oficiais da PSP e da GNR têm trocado acusações sem precedentes. O primeiro "tiro" foi dado pelos militares da GNR no comunicado já referido e que provocou uma reacção de grande revolta na polícia. No entanto, segundo algumas fontes disseram ao DN, apesar das pressões para que Nelson Santos agisse disciplinarmente contra os seus oficiais, este nada fez.

Os oficiais da PSP, através do seu sindicato, reagiram num violento comunicado, e o seu presidente, comissário Jorge Resende da Silva, avisou, numa entrevista: "a GNR não deve meter-se no dinheiro da PSP."

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