O gang do Leste
Um gang anda desde Janeiro a roubar alegremente caixas multibanco no Alentejo e no Algarve.
Por:Manuel Catarino, Jornalista
Fazem-no, aparentemente, sem o mais leve sobressalto – em total tranquilidade. Dezasseis crimes depois e cerca de meio milhão de euros a voar, a Polícia Judiciária de Faro pouco sabe sobre o caso: supõe, desconfia, imagina, suspeita de que seja um gang de Leste – nada mais.
O ‘Leste’ passou a ser uma marca de qualidade do crime e uma desculpa para os fracassos da investigação criminal. Como se os criminosos que vêm do Leste fossem de um género com invulgares poderes perante os quais só nos resta resignação e muita fé. Isto de um gang, seja qual for o sotaque, continuar em actividade ao fim de 16 investidas não deixa ninguém sossegado sobre a eficácia de alguns departamentos da PJ.
Se ao menos fossem ladrões de pelica e fina cautela ainda se compreendia. Mas estes, sem a delicadeza dos cerebrais, agem à bruta: roubam retroescavadoras, derrubam paredes, rebentam os cofres das caixas automáticas – e piram-se. Não me alegra nada malhar na PJ. Muito gostaria de que não me dessem motivos. Mas com exemplos destes querem o quê – palmadinhas nas costas?
Debate de temas sobre a Policia Judiciária, investigação criminal, prática judiciária e temas de direito. Se quiser enviar artigos: invescriminal@gmail.com
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
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1 comentário:
De há anos a esta parte, algumas das premissas da verdadeira investigação criminal como o "perfil do criminoso" ou o "modus operandi" têm sido sistematicamente desvalorizadas pelos tribunais. Esses estudos, que podem ser apoiados por análise estatística, acabam por ter apenas interesse na fase de inquérito, com evidentes consequências na produção de prova em julgamento. Por esse motivo, ou também por causa dele, actividades criminosas como esta só podem ser combatidas com o "flagrante delito", uma vez que nas inspecções aos locais não costumam ser recolhidos grandes elementos, não sendo assim possível relacionar os suspeitos com os ilícitos. Mas para o flagrante delito é preciso o que cada vez há menos: informação partilhada; contactos directos com as entidades e não filtrados pelas hierarquias; e dinheiro, claro está, para pagar muitas noites a dezenas de funcionários de prevenção.
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