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domingo, 15 de janeiro de 2012

A (des)organização

Por mais que uma vez, tentei lançar neste blog uma discussão que nos levasse a questionar a organização PJ.
Em boa verdade parece-me que é aí que reside o problema.
Se conseguirmos manter algum distanciamento das intervenções aqui postadas, salta à vista que tudo está mal. Quase ninguém se identifica com esta organização. Não existe uma identidade organizacional. Não existe unidade institucional.
Já aqui assisti a disputas de competência, da qualidade do trabalho e das funções entre administrativos e investigadores, como se fosse possível comparar carreiras. Já aqui assisti a disputas entre investigadores que se acham mais competentes, mais trabalhadores, mais cumpridores que outros.
Eu sou melhor que o colega do lado, a minha brigada é melhor que a vizinha, a minha secção é a "creme de la creme". A hierarquia? Uma cambada de inúteis que não fazem falta nenhuma. Aliás, dizem alguns, defensores da anarquia ou da ordem natural, que só devia haver Inspectores, que pelos seus lindos olhos ou pelos favores que fossem fazendo aos directores ou sabe-se lá a quem, e á imagem do que se passa com o sector administrativo, iam sendo nomeados para lugares de chefia ou coordenação, independentemente da sua competência, lugares de confiança portanto.
O DN terá alguma responsabilidade nisto? Claramente que sim.
Será o único responsável? Obviamente que não.

Recordo que outros que o antecederam foram criticados por não conhecerem a casa, não estarem imbuídos do espírito dos polícias, não perceberem a dinâmica duma polícia de investigação. Esses foram aliás, os argumentos para a nomeação e aclamação de um DN da casa. E qual foi o resultado? Quanto a mim bem pior que os anteriores, já que não tem desculpa para ter deixado afundar o barco.
É responsável pela desmotivação que sentem todos aqueles que acreditaram nele e se convenceram que, todos juntos, conseguiríamos reerguer a PJ.
Tinha a obrigação de saber que os profissionais desta casa vestem a camisola e iriam apoiá-lo caso tivesse feito um esforço, por muito pequeno que fosse, no sentido de resolver algumas questões do nosso caderno reivindicativo.
Deveria ter-se preocupado em sentir o pulsar da organização que se propôs dirigir e ter tido a coragem de mudar o que está mal, mesmo que para tal tivesse que substituir directores e/ou subdirectores de departamento.
Deveria saber que os bons polícias não lidam bem com fogueiras de vaidades, e que não gostam de trabalhar a toque de caixa da comunicação social e de grupos ou pessoas influentes.
Deveria saber que os profissionais de investigação desta casa são, na sua maioria, competentes, zelosos, empenhados, incorruptíveis, seres pensantes cientes de que prestam um importante serviço público e que estão fartos de serem tratados como operários não qualificados.
Até poderia ser substituído por falta de confiança política, mas sairia em ombros.
Optou por nada fazer, e a sua omissão (ou será submissão?) alastrou-se como um virus silencioso que minou ainda mais toda a estrutura da instituição, já de si pouco saudável.
Consta-se que estará de saída. Espero sinceramente que o Sr. DN e os restantes Srs. Directores que, espero, o acompanhem, não venham uma vez mais com o discurso dos resultados obtidos e tenham a dignidade de dizer publicamente que os resultados da sua gestão não lhe pertencem, mas sim à mole de excelentes profissionais que conseguem trabalhar sem que a direcção defina objectivos, sem que a hierarquia esteja presente e assuma a liderança, sem que lhes paguem condignamente as horas que retiram à família em prol do bem comum.

Com efeito faltam-nos lideres, faltam-nos referências, falta-nos espírito de corpo, mas também massa crítica e pontos cardeais que nos mostrem qual o melhor caminho a seguir.
E um dos caminhos a seguir reside em minha opinião, na reclamação de direitos e no reconhecimento do verdadeiro valor dos inspectores na estrutura da investigação. Demonstremos que, lá porque estamos na base da carreira, não somos o elo mais fraco.
Que tal como nas pirâmides do Egipto, as pedras da base são as mais fortes, quanto mais não seja porque suportam o peso das que lhe estão por cima.
Vai sendo tempo de, com responsabilidade, reclamar “o seu ao seu dono”.

Assim, não consigo entender porque razão um inspector se mostrou tão incomodado pelo facto de ter sido obrigado a justificar por escrito, uma qualquer reclamação por parte de um cidadão, seja ele quem for.
Para além de constituir em si própria uma oportunidade para exercer o seu direito de contraditar, é o reconhecimento de que o inspector é alguém responsável que responde pelos seus actos. Se me disserem para escrever, eu escrevo e alego como entendo, doa a quem doer.
É também o reconhecimento de que a PJ não sofre do mal que tantas vezes apontamos a outras forças de segurança e que se chama falta de transparência.
É ainda a prova de que o inspector da PJ tem autonomia no seu trabalho e que não é constantemente controlado pela hierarquia.
Coisa diferente é a direcção cegamente dar razão ao reclamante, a notícias ou boatos e, sem sequer atender ás razões do funcionário, tomar atitudes calcando sempre para baixo – acreditem que conheço casos desses.

Saudações cordiais
O Tripeiro

8 comentários:

Anónimo disse...

Excelente opinião. Parabéns.
Pena é que o DN e a sua equipe tenha sido convidada para continuar!
Qual irá ser o futuro da "nossa" PJ?
Não estarão os objectivos do "sinistro" Chaves a ser verdadeiramente alcançados?

Anónimo disse...

Quase ninguém comenta, mas o "nosso" problema não é a "anestesiada" ministra da Justiça, é o seu chefe de gabinete, o "macaense" que na sombra e na liderança do ministério tem "ordens" para destruir a Polícia Judiciária.
Infelizmente ninguém leva muito a sério as opiniões do Bastonário da Ordem dos Advogados. Pudesse ele "abrir totalmente o livro" e muitos dos podres do ministério seriam totalmente desvendados.
Pena é que os jornais olhem para Marinho e Pinto como um "extravagante", mas verdadeiro.

Anónimo disse...

Enfim, esta é uma casa de muitas cabeças, muitas sensibilidades, muitas quintas, muitas vaidades.

Quando se fala em lideraça que não há, e concordo que não há, estamos a falar de Directores, Subs, CSIC, CIC e IC obviamente.

E tudo começa mal pela nossa organização, da PJ e da ASFIC.

Pode parecer estranho mas não considero saudável termos no nosso seio (sindical) gente que é representante patronal.

A ASFIC em caso de litígio laboral entre sócios só pode calar-se e quando devia defender os Inspectores, (Por exemplo no caso do escandalo dos piquetes) também acaba por não o poder fazer convenientemente porque do outro lado tem uns seus sócios que são uns "lordes" e dormem com o patrão.

Há que chamar os bois pelos nomes e deixarmo-nos de conversas da treta.
Ainda estou para saber que contributos assinaláveis touxe esta ligação anti-natural.

O que tem feito é andarmos sempre de paninhos quentes com gente que não merece: Por incompetência e por viverem das mordomias do patronato.

Considero até que todo o funcionário que chegue a CIC deveria imediatamente suspender a sua participação no sindicato.
Ficávamos todos a ganhar.

Detesto gente falsa... e que não presta.

Irmão Mike

Anónimo disse...

Caro anónimo das 18,05, vejo que está muito atento ao que se passa nos bastidores mas eu ainda acrescento mais algumas perguntas: qual é o diretor que é muito amigo do antigo chefe de gabinete do Alberto Costa, um tal Filipe Costa, muito amigo do antigo diretor nacional da PSP, Oliveira Pereira, muito amigo do diretor do OSCOT, José Manuel Anes, e que até consta ter sido convidado pelo Silva Carvalho para as secretas? Só mais uma pista: gosta de aparecer muito penteado nas fotografias dos jornais e das revistas e é uma das apostas da ASFIC para DN se a Ministra da Justiça não escolher antes um desembargador. Não deixa é de ser engraçado que todos aqueles amigos andem há muito tempo de avental a cozinhar a fusão da PJ numa policia nacional. Sabendo-se como certos cozinheiros gostam de cozinhar tudo entre eles antes de dar a provar a receita aos outros acho muito bem que a direção da ASFIC aposte nesse diretor. Afinal de contas é só mais um tiro no pé que até pode ser um tiro na cabeça. Mas eu até percebo. Andam tão preocupados em correr com o AR e companhia para não perderem a cara que qualquer coisa lhes serve, mesmo que isso seja o fim da PJ. Mas desta ASFIC à moda do Porto já tudo se espera.

Anónimo disse...

Parabéns ao blogger por ter colocado este artigo e parabéns ao irmão Mike pelo seu comentário.

De fato a PJ está a precisar de uma revolução e nós sabemos que a revolução se faz com os soldados e não com os generais. É preciso continuar a insistir que os lugares da hierarquia da PJ deviam ser todos ocupados por magistrados e a carreira de investigação criminal devia ter só a categoria de inspector. Desta maneira ficava também resolvido o problema de termos na ASFIC representantes da entidade patronal como diz o irmão Mike muito bem. Assim as águas ficavam completamente separadas: os policias eram os inspectores e os chefes os magistrados. É por isso que também acho muito importante que rapidamente a ministra da justiça substitua o AR por um magistrado de preferência um juiz desembargador.

Felizmente acho que a direção da ASFIC sabe bem que esse é o caminho que a PJ tem de seguir e por isso, embora concorde com o resto, acho injustas as criticas que o irmão Mike lhe faz.

Uma PJ sem classes e em que os inspectores sejam todos iguais é a revolução que todos desejamos e que já devia ter acontecido á muito tempo.

Bem hajam.

Anónimo disse...

Nem na União Soviética deixou de haver hierarquias e mais falavam numa sociedade sem classes.
A idiotice de alguns em defender uma PJ sem chefias é tão tonta que me faz pensar esta polícia anda mesmo à deriva.
Rapidamente e em força a Polícia Nacional.
Ainda gostava de ver estes Drs. todos a marchar e a fazer continências.
Já esteve mais longe...

Anónimo disse...

Realmente meu amigo,

onde já se viu uma organização sem chefias... a sociedade sem classes apenas no regime comunista e isto só no plano teórico, pois no prático sabemos bem que não é assim...

na nossa casa precisamos de chefias fortes e sérias, para que possam, através do exemplo, exigir, avaliar, valorizar e punir... coisa que atualmente pouco se vê.

as chefias têm de saber dirigir os seus subordinados, não o fazendo muitas vezes por mera incompetência, pois muitos progridem em concursos "ligeiramente" viciados e porque são gajos "FIXES. isto também não quer dizer que o sejam todos, pois os há bastante competentes, mas também alguns desses são uns fixes, uns bacanos que não se querem chatear...


a verdade é que andamos sem rei nem roque.

vemos os funcionários a esgrimirem direitos e esquecerem deveres, maioritáriamente os de assiduidade e de zelo...

não se esqueçam que estamos aqui para trabalhar e fazer por merecer o que levamos para casa. só depois é que poderemos exigir mais.

tentemos individualmente fazer algo para melhorar a nossa casa...

Anónimo disse...

Que saudades que tenho do tempo de outrora, em que cada aspirante a Investigador passava obrigatoriamente pelas Brigadas Externas.Aí fazia-se tudo, desde o furto de galinhas ao organizado.
Nesse tempo a união fazia a força, não deixando margem para a inveja e elitismo.
Hoje a INFORMAÇÂO de outrora já não existe, dando lugar à cómoda escuto-dependência.
Tudo mudou devido á exigência do protagonismo saloio, que mais não fez que ceder espaço de manobra para outros o ocuparem.Não percebo o porquê de tanta admiração quando a Instituição é preterida no seu vector fulcral,as competências,em prol de quem têm nas suas fileiras doutores que antes do o serem já eram POLÌCIAS.

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Lisboa, Portugal
Investigador Criminal