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domingo, 23 de outubro de 2011

A Nortada continua

Artigo recebido por email:


O DESNORTE CONTINUA

Registo com agrado a ausência dos dirigentes da ASFIC/PJ nas celebrações do 66º aniversário da Polícia Judiciária. Não faz parte da cultura portuguesa assinalar efemérides com festejos, quando o aniversariante está doente.

Por essa razão, mas também porque integro a mole de funcionários desta casa, cujo desempenho profissional não foi relevante, não “contribuindo assim para o prestígio e bom nome da polícia Judiciária”, também não fiz questão de estar presente.

Tive contudo curiosidade em ler o discurso proferido pela Sra. Ministra que nos tutela, que, dirigindo-se aos agraciados, disse: “O reconhecimento público que vos foi devido, como, antes de vós, a muitos outros, deve-se ao mérito e às qualidades de excelência no cumprimento das missões que vos foram confiadas. Que o vosso exemplo seja um sinal de esperança e estímulo para todos”.

Questionei-me a que exemplo se referiria a Sra. Ministra.

Quem são os colegas agraciados e quais os seus actos valorosos, para além do estrito cumprimento dos seus deveres?

Como poderei seguir um exemplo, uma referência, que não conheço?

É certo que nos vários despachos ministeriais que os agraciam, encontrei adjectivos que poderão indicar um caminho a seguir!

Mas então na DN, o maior departamento do país (fruto da confusão criada pela reestruturação, onde digo DN, não digo DN, digo DNorte) ninguém possui elevada competência, espírito de sacrifício, permanente dedicação e disponibilidade, profissionalismo, voluntariedade, entrega à causa pública, coragem, frieza e equilíbrio nas suas avaliações, capacidade de persuasão e perspicácia, sentido do dever, dedicação, lucidez, bravura, isenção, conhecimentos técnico-profissionais, produtividade e prestígio, determinação, dedicação, capacidade de organização, saber fazer, método, pontualidade e lealdade ou criatividade.

Não desvalorizando as restantes, este último é demais, se considerarmos que a investigação vive da criatividade e na DNorte, a falta de meios e de condições de trabalho aguçam o engenho.

Em suma, as investigações das várias secções da DNorte, algumas das quais exigiram a entrega total dos investigadores, sinal de um inqualificável sentido de dever e entrega à causa pública (que não pessoal), por vezes com elevados custos pessoais, e que resultaram em pesadas condenações, não são exemplo para ninguém.

Na falta de agraciamentos públicos do mérito dos funcionários da DNorte, contentemo-nos então com a mensagem de Boas Festas proferida pelo Sr. Director do Departamento, a escassos dias do final do ano de 2010: “… fica registado o desempenho da Directoria do Norte com a cotação elevada na matriz funcional de uma instituição de referência…”. “Assim, expressando o reconhecimento da Direcção pelo trabalho desenvolvido…”.

De onde resulta que, ou o seu grau de exigência é muito baixo, ou então não passaram de bonitas palavras no contexto da época natalícia.

Mas então o que é feito das várias propostas que se diz terem sido apresentadas pela hierarquia? Foram todas chumbadas ou ficaram na gaveta do Director?

Fui ler o discurso do Sr. Director Nacional e “fiquei mais descansado”, já que disse: “Tendo perfeita consciência que muitos outros, cuja acção foi igualmente meritória, não foram ainda formalmente agraciados, estou certo que teremos oportunidade de os honrar logo que os seus actos relevantes sejam apreciados”.

Então, as versões que correm à boca pequena terão algum fundamento! Existem propostas para avaliar e votar, só que os Conselheiros não tiveram tempo! Se calhar porque o Director da DNorte as guardou para o último dia, não permitindo assim que os Conselheiros as lessem e votassem em consciência.

A ser verdade este “golpe de asa”, o Presidente da Comissão de Classificações e Louvores lá teria as suas razões para pretender o voto à molhada, mas tudo, obviamente, no interesse dos seus fiéis colaboradores.

Não desanimem, não esmoreçam, e continuem a busca da excelência que vos levará ao reconhecimento público. Para o ano, aquando das celebrações do 67º aniversário, se a PJ ainda for viva, serão avaliados os vossos actos heróicos, a valentia, a coragem, a determinação, o espírito de sacrifício, a competência, e todos os outros predicados. Sigam o exemplo dos colegas agraciados e façam por merecer.

Pode é não ir a tempo de ser averbado nos vossos currículos, caso entretanto abra algum concurso para progressão na carreira, o mais importante benefício dos agraciamentos.

Para concluir, deixo algumas questões que pretendem ser em si um desafio, que faça elevar a massa crítica, não sobre pessoas, mas sobre esta Instituição:

- Alguém se identifica com uma Organização que em dois anos consecutivos agracia às cegas mais de uma centena de funcionários?

- Alguém acha justo que um colega seja louvado apenas porque investigou bem um e apenas um processo, ou numa área como o crime mais violento, o tenha feito sozinho?

- Concordamos que estes louvores e menções elogiosas sejam considerados para efeitos de concurso para progressão na carreira e, nalguns casos, tenham sido determinantes para a frequência de cursos de promoção?

- Se nem colegas que trabalham nas áreas mais exigentes em termos de disponibilidade foram agraciados, que hipótese de o virem a ser têm os colegas que trabalham nas secções ditas mais “burocráticas”?

- Se não temos todos as mesmas hipóteses para mostrar o que valemos, se as verdadeiras formiguinhas que na verdade contribuem para os números de sucesso apresentados pelo Sr. Director Nacional no seu discurso continuam anónimas, como aceitamos de ânimo leve que este mérito desequilibrado seja tido em conta nos concursos, e possa determinar o afastamento de uns e a promoção de outros?

- São estes agraciados as referências desta casa?

5 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia.

Um excelente texto, parabéns.

Não faz sentido nenhum esta molhada de louvores, nenhum é por feitos relevantes.

Obrigada.

Anónimo disse...

Caro colega, o problema não é agrciar um "superpolícia" que investigou, provavelmente escutou, vigiou e finalmente deteve e apresentou SOZINHO um perigoso grupo de malfeitores, o problema, para além dos louveres por atacado, é o agraciamente de um Insp. pelos DEZ anos que investigou o tráfico internacional de estupefacientes (é pena é não informarem quantas toneladas apreendeu, a não ser que as apreensões se tenham ficado pelas prevenções no aeroporto de Lisboa).
Sr. DN por amor de deus...

Anónimo disse...

Em tempos, era agraciado quem efectivamente tinha feito algo que era extraordinário, e nessa altura o louvor ou qualquer outro agraciamento tinha um enorme peso e quem fosse premiado com tal, era respeitado.
Actualmente esse respeito já não existe, a não ser, claro, pela pessoa e funcionário enquanto tal, porque a banalização que se gerou com a entrega em massa e sem justificação extraordinária destes agraciamentos, retirou-lhes todo o peso de respeitabilidade que tinham, servindo apenas para tapar olhos ou "ajudar" alguém em futuros concursos.
Aliás se não for por vaidade "pobre" ou por interesse concursal, estes agraciamentos valem zero.
Tenho 21 anos de casa, e li que um Inspector foi agraciamento por 22 anos de dedicação e profissionalismo. Se quando fizer 22 anos não for garaciado, então à Direcção desta casa restará colocar-me um processo disciplinar porque não foi dedicado e profissional. Este deverá ser o pesnamento de quem é sério na avaliação do trabalho executado.
Hoje em dia, e admitindo nunca ter sido agraciado, apesar de algumas vezes elogiado por outras entidades, vejo perante um grande dilema se algum dia for comtemplado com um agraciamento. Devo ir recebê-lo ou não??? Quero tal agraciamento?? Sinceramente não me apetece, agora, ir recebê-lo e se pudesse recusava-o pois não gostava de ver o meu nome envolvido em tal graçola.

Anónimo disse...

Acabe-se com os louvores. Os louvores são o ópio do povo que nos entorpece a todos. Pior ainda são os crachás de ouro e já agora pergunto: Alguém sabe por que razão foi atribuido o crachá ao único que o tem no activo?

Anónimo disse...

Caríssimos,

penso que devem continuar a existir os louvores para colegas que em determinado período fizeram um trabalho excepcional, repito ... excepcional. Face ao que temos visto penso que estes não devem ter qualquer valoração em sede de concursos, aliás perante tamanha distribuição de louvores exorto os colegas a recusarem o recebimento desta banalidade.
Meus caros, todos nós temos plena consciência, assim como aqueles que nos rodeiam, quando somos merecedores de determinado agraciamento. Actuemos em conformidade.

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Lisboa, Portugal
Investigador Criminal